sexta-feira, 30 de março de 2007

Roterdão no horizonte...



Roterdão é a segunda maior cidade da Holanda e tem o maior porto do mundo. Está situada nas margens do rio Nieuwe Maas, é atravessada por diversos canais com pontes elevadiças e giratórias. Foi fundada no século XIII e ao longo da sua história foi alcançando grande prosperidade, passando de uma pequena vila piscatória para um centro internacional de transporte de mercadorias, comércio e indústria. Na segunda guerra mundial o centro da cidade foi fortemente desvastado pelos bombardeamentos alemães.

Roterdão é um local onde predomina a modernidade, tem uma arquitectura de vanguarda que é facilmente identificável através dos seus edifícios brutalmente altos, espelhados e com inusitadas formas geométricas.


Em 2001, foi juntamente com o Porto, a Capital
Europeia da Cultura, sob o tema: "Roterdão é muitas cidades". Como quase metade dos seus cidadão pertencem a minorias étnicas e porque tem uma forte comunidade imigrante proveniente dos vários continentes, Roterdão é uma cidade cosmopolita e um ambiente particularmente exótico.

Em Abril de 2005, vivi aí um dos momentos mais emocionantes desde que abraçei o mundo da corrida. Não sei se a história se vai repetir, mas sei que gosto de revisitar os locais onde fui feliz.
Brevemente, voltarei lá para correr e quem sabe (voltar a) ser feliz!

segunda-feira, 26 de março de 2007

Maratona: "nenikikamen!!!".

No ano 490 a.C. os gregos tinham vencido os persas na batalha de Maratona - planície da Grécia. Após a batalha, coube a Pheidippides a tarefa de levar a boa notícia à cidade de Atenas. O mensageiro correu cerca de quarenta quilómetros e logo após a chegada, só teve fôlego para dizer "nenikikamen!!!" (vencemos!!!) e caiu morto. Na verdade não existe prova deste facto. Uns afirmam que é lenda, outros que a história é verídica. Lenda ou não, séculos mais tarde, em 1896, quando os Jogos Olímpicos da Era Moderna foram recriados, Pheidippides foi homenageado com uma nova modalidade olímpica: uma corrida de quarenta quilómetros que recebeu o nome de Maratona. O vencedor dessa prova foi um grego desconhecido, Spiridon Louis, que era carregador de água e pastor de ovelhas. Em 1908, nos Jogos Olímpicos de Londres, a distância da Maratona foi aumentada para quarenta e dois quilómetros cento e noventa e cinco metros, por capricho da família real inglesa. Os príncipes queriam assistir à prova, mas devido à sua tenra idade, não podiam ir ao estádio, pelo que a solução encontrada foi que os atletas começassem a prova junto ao Castelo de Windsor e a terminassem no estádio White City, em fente à tribuna do rei Eduardo VII.

Os portugueses também fazem parte da história da Maratona, umas vezes de forma trágica, mas muitas outras, com momentos de sublime glória.

Assim, nos Jogos Olímpicos de Estocolmo de 1912, Fancisco Lázaro, um carpinteiro de 21 anos, partiu de Lisboa carregado de esperanças em vencer a Maratona, caiu por terra ao trigésimo quilómetro e acabou por morrer. Sabe-se que estava um dia de calor extremo em Estocolmo. Dizem que besuntou o corpo com uma graxa ou óleo, pois pensaria que, se não suasse, não desidrataria e correria mais. Infelizmente, aconteceu precisamente o contrário, como não transpirou, não eliminou toxinas. Dizem também que foi o único atleta que correu com a cabeça descoberta, debaixo de um sol abrasador.

Não haverá nenhum português que não associe os nomes de Carlos Lopes e Rosa Mota à Maratona. Estes dois atletas fizeram soar o Hino Nacional e subir a bandeira portuguesa ao mastro mais elevado nos Jogos Olímpicos e encheram de orgulho milhões de portugueses. Rosa Mota venceu a primeira Maratona feminina que se realizou, disputada em Atenas nos Campeonatos Europeus de Atletismo de 1982. Os feitos destes dois atletas em maratonas, continuou a ser demonstrado pelo mundo fora, vencendo muitas destas provas e arrecadando vários títulos mundiais e europeus. Carlos Lopes foi durante alguns anos o detentor do record mundial da distância, quando em 1985, ganhou a Maratona de Roterdão, com o fantástico tempo de 2h07m12s. Para além destes atletas, nomes como Manuela Machado, que chegou a ser campeã europeia e mundial e António Pinto, que possui um curriculum impressionante na Maratona de Londres, de três vitórias, um segundo lugar e três terceiros lugares, é ainda hoje o recordista europeu da distância com 2h06m36s, obtido precisamente em Londres no ano de 2000.


A Maratona é a mais longa, desgastante e uma das mais difíceis e emocionantes provas de atletismo. Hoje, tornou-se a corrida de rua mais popular do mundo, são milhares as pessoas que se juntam aos atletas de elite para participarem no desafio de correrem os quarenta e dois quilómetros cento e noventa e cinco metros. Quem a corre pela primeira vez e a termina, não consegue parar de pensar na próxima - é uma sensação estranha e difícil de traduzir. Dentro de alguns dias participarei na minha quinta Maratona, todas as outras que corri, ao chegar à meta, fui invadido por uma enorme alegria. Reparo sempre no rosto cansado mas feliz dos atletas do pelotão ao concluírem a prova e creio que todos, no seu íntimo, escutam uma voz a dizer: "nenikikamen!!!".

terça-feira, 20 de março de 2007

Meia-Maratona de Lisboa: da iniciação à peregrinação.


No já distante dia 24 de Março de 2002, fui a Lisboa para correr a minha primeira meia-maratona. Sim, mesmo a "meia", os tais vinte e um quilómetros e noventa e sete metros e meio. Na altura estava longe de imaginar que ali iniciava a minha grande odisseia no atletismo. Confesso que esta prova não foi escolhida ao acaso, pois as imagens que via de edições anteriores provocavam em mim um certo fascínio. As minhas expectativas não foram defraudadas, nem sequer beliscadas, pois correr em cima da Ponte 25 de Abril, tem algo de inexplicavelmente mágico. Desde então, apenas falhei uma vez a "meia da ponte", como é carinhosamente apelidada pelos atletas, devido a uma lesão contraída nas vésperas da prova, quando já treinava afincadamente.

Assim, no passado domingo, rumei a Lisboa para cumprir a trigésima segunda meia-maratona do meu rol, celebrada com o ritual da passagem da ponte. Estava uma manhã de sol radioso, não muito boa para quem ia com objectivos de melhorar tempos, mas excelente para colorir o ambiente e dar mais brilho à festa.

E a festa começou bem cedo, é lindo ver as paragens dos autocarros apeadas de gente com o dorsal pregado na t-shirt, é arrepiante e sufocante fazer a viagem de comboio para o outro lado da ponte até ao Pragal, com uma enorme enchente a fazer lembrar o metro de Tóquio em hora de ponta. A imensa multidão equipada de diversas formas, uns para correr, outros simplesmente para caminhar, exteriorizava uma enorme alegria, através do barulho que fazia e pela ânsia que tinha em chegar ao local da partida. Chegados ao Pragal, a recepção é feita por uma Banda de música e pelas variadas empresas que patrocinam o evento, que vão distribuindo bonés, lenços e demais brindes publicitários. A romaria vai aumentando e são já uns milhares de pessoas que vão subindo a encosta, rumo à praça da portagem. Lá no cimo, o Cristo-Rei que apesar de estar de costas, parece querer dar-nos a mão, para que possamos chegar mais depressa à zona da partida. Aqui, à medida que esperámos pelo tiro da partida, ouvimos dizer que o primeiro-ministro está ali, a câmera da televisão acolá, vemos um grupo de bailarinas a agitar as ancas ao som de música latina em cima de um palco. O speaker grita a dar as boas vindas e informa que estão trinta e seis mil para a travessia da ponte: cinco mil para a "meia" e trinta e um mil para a "mini", um record!!!

O tiro da partida soa e uma louca correria começa, para evitar os atropelos e ganhar posição, acelero um pouco mais no arranque, quando reparo já estou em cima da ponte a correr, mais ou menos à vontade, mas sempre serpenteando por entre atletas. Cumprida a travessia no tabuleiro e quando se desce o viaduto para Alcântara, consegue-se ter a noção do mar de gente que desliza em cima da ponte - é simplesmente impressionante!

Aqui, os 'peregrinos da mini' voltam para Belém, enquanto os 'peregrinos da meia' rumam em direcção à zona histórica de Lisboa, pela Avenida da Índia, 24 de Julho, Cais do Sodré, Terreiro do Paço, Rossio, Santa Apolónia, regressando novamente ao Terreiro do Paço fazendo o caminho inverso pela 24 de Julho, até chegar à meta instalada na Praça do Império, tendo como sombra a imponência do Mosteiro dos Jerónimos. Talvez os monges que neste local habitavam, a quem outrora D. Manuel pediu para prestarem assistência espiritual aos navegadores, que da praia do Restelo partiam à descoberta de outros mundos, iluminem agora os muitos atletas do pelotão que aqui descobrem a paixão pela corrida.

quarta-feira, 14 de março de 2007

O elogio à tribo.


Estávamos em Maio. Os dias eram mais longos e a temperatura bastante agradável. Eu descia a avenida, dava duas ou três voltas ao parque e a minha respiração já era ofegante. Os meus passos cada vez mais vagarosos, rapidamente cediam ao cansaço do corpo, que deixava de se movimentar para começar a arrastar-se. Enquanto isso, cruzava-se comigo um grupo de corredores, que deslizava suavemente os pés pelos caminhos de terra batida, numa passada rápida e certa, em amena cavaqueira.

Como sou teimoso e estava determinado em levar por diante este novo desafio, obriguei-me a cumprir essas voltinhas três vezes por semana, mesmo quando os músculos reclamavam dor.

O mês de Setembro chegou e com ele vieram as primeiras chuvas. No princípio ainda hesitei sair para correr, insisti, não desisti, em boa hora o fiz porque correr à chuva revelou-se um desconhecido prazer, recordando os tempos de criança em que à revelia dos pais saltava alegremente de charco em charco de água.

Passados alguns meses, a minha condição física não só melhorara, mas a minha auto-estima também estava mais elevada. Entusiasmado pelo êxito pessoal alcançado, aumentei a frequência dos dias de corrida, que de um momento para o outro passou a ser diária.
É!!!!! "Primeiro estranha-se, depois entranha-se", não foi a respeito da corrida que Fernando Pessoa escreveu isto, mas até parece!

Assim,

...juntei-me ao grupo dos grandes malucos que trocam o aconchego do sofá, saiem à rua para correr e serem fustigados pela chuva, pelo vento e pelo frio, dos rigorosos invernos do norte.
...passei a fazer parte daqueles loucos, que num fim de tarde de verão ao invés de estarem numa esplanada a saborear uma cerveja fresca, correm alienadamente até se esvairem em suor.
...tornei-me um dos muitos doidos, que ao domingo bem cedo, enquanto meio mundo dorme, sai para uma longa corrida de muitos quilómetros no asfalto, chegando a casa com um sorriso nos lábios e a naturalidade de quem foi ao quiosque da esquina comprar um jornal.

Desta forma, entrei no maravilhoso mundo da corrida, sentindo-me um privilegiado por fazer parte desta estranha tribo!





terça-feira, 13 de março de 2007

Um blog como prenda...



Hoje é o dia do meu aniversário!

Resolvi oferecer a mim próprio uma prenda. Um blog!

Aqui, irei partilhar com conhecidos e desconhecidos, algo que mudou a minha vida e entrou na rotina do meu dia a dia com a naturalidade e a necessidade de quem precisa de comer, beber ou tão simplesmente dormir, a corrida.

A corrida faz parte de mim como o meu próprio nome!

Assim, procurarei narrar aqui, os treinos feitos debaixo de chuva, ao sabor do vento e do frio ou com o sol a queimar. Abordarei o drama das lesões, as angústias do atleta antes do tiro da partida, o desportivismo e as amizades conquistadas nas provas, ou a competição que tenho comigo próprio para melhorar os tempos, nem que seja por um ínfimo segundo.

Mas, como escrever é levar as palavras a dar um passeio, talvez este espaço solte as letras e lhes dê a liberdade de correrem para além da corrida.

Sejam bem-vindos!