Por manifesta falta de tempo e disposição para escrever, tenho andado distante da blogosfera. Assim, não dou notícias desde o verão, não fiz a habitual crónica da Meia-Maratona SporZone e não escrevi qualquer palavra acerca da preparação da maratona.
Estive quase para continuar em silêncio, mas depois de ler alguns posts colocados por companheiros de corrida, senti que deveria dizer alguma coisa.
Faço parte da história (de sucesso) da Maratona do Porto, digo-o com muito orgulho! Estive nas anteriores edições e, claro, queria a todo o custo participar (e concluir) na sétima. E foi o querer continuar totalista que me moveu, porque fosse outra maratona em Portugal, ou mesmo no estrangeiro, teria desistido de participar.
No final do mês de Agosto, num habitual treino, sofri uma lesão muscular na face posterior da coxa direita, ou seja a uma semana de começar o meu habitual plano de 9 semanas de preparação para os 42,195 kms. No meu historial de corrida, as lesões que sofrera até à data não passavam de pequenas mazelas, que eram debeladas em pouco tempo e com relativa facilidade. Pensei que com esta sucederia o mesmo.
Primeiro engano!
Descansei uns dias e comecei os treinos para a maratona com alguma moderação durante as duas primeiras semanas. Na terceira aumentei um bocadinho a intensidade, mas nada de especial, comparado com a preparação das anteriores maratonas e ressenti-me uma vez mais. Uns dias de descanso, fisioterapia, massagens e regresso novamente aos treinos, obviamente com cargas menores e muitas cautelas. Entretanto chegou o dia da Meia-Maratona SportZone e seria o teste ideal para avaliar o estado das minhas pernas, ou no caso concreto, da coxa direita. Fiz um tempo de 1h23m53s, embora tenha sentido ainda um ligeiro desconforto na zona afectada da lesão, parecia-me que estava a ficar recuperado. Na semana seguinte, fiz os treinos dentro dos tempos estipulados, incluindo séries de 800 metros e um longo de 26 kms e, pela primeira vez desde o início da preparação específica para a maratona, treinei sem limitações e com boas sensações.
Segundo engano!
Volvidos dois dias, num treino de baixa intensidade e de recuperação, uma 'pontada' na famigerada coxa direita veio recordar-me que afinal a lesão ainda morava lá. Novamente uns dias de descanso, piscina, fisioterapia e massagens e recomecei a treinar. Estavamos a três semanas da maratona e as dúvidas que tinha em poder ter algum sucesso na prova começavam a passar quase a certezas, mas como sou um tipo teimoso e que gosta de correr riscos, não desisti e estar na linha da partida e claro fazê-la!
A partir deste momento, o desafio, com uma dose de loucura, passou a ser - Será que resisto? Conseguirei concluir a prova?
Assim, quando no passado domingo soou o tiro da partida, larguei consciente que a minha corrida seria uma incógnita e que o risco de ser forçado a abandonar era demasiado grande! Mesmo com estas permissas nada animadoras, o objectivo era fazer um tempo a rondar as 2h55m-2h59m59s, porque além de teimoso, também sou pouco modesto!
Até à passagem da meia-maratona fui confortávelmente a um ritmo +/- 4m10s/km, registando um tempo de 1h26m57s. Aos 24 um ligeiro aviso coxa, deu-me sinal para abrandar e que as dificuldades iriam começar. Atravessei a ponte D. Luís e tentei seguir a um ritmo dentro dos 4m25s-4m30s/km que, a conseguir manter, daria para fechar com um tempo no limiar das 3 horas. Lá fui seguindo, não muito confortável nesta cadência. Fui apanhado pelo Mark Velhote, no entanto ainda consegui colar-me a ele uns kms mais à frente e já na companhia deste aos 33 kms, contabilizando um tempo de 2h17m58s, a minha coxa direita resolveu provar-me que iria ter de abrandar ainda mais para continuar! Fui reduzindo então o ritmo, primeiro para 5m/km, depois para 6m/km, depois para 7m/km, depois para 8 km, e cheguei à meta devagar muito devagarinho, gastando 64 minutos para correr 9 kms, concluindo a minha sétima maratona do Porto em 3h21m44s!
Gostava de referir que, apesar de toda esta epopeia, não cheguei ao fim cansado! Sentia-me como se tivesse feito um treino longo. Apenas sentia um desconforto na coxa direita que me impedia de correr, mas caminhava normalmente e sem qualquer esforço!
Não gosto de desistir, não faz o meu género e queria fazer parte da história da Maratona do Porto, contribuindo para que registasse mais atletas chegados à meta nas maratonas corridas em Portugal. Mais tarde vim a saber que este record foi alcançado - Foi a minha pequena vitória!
Em jeito de balanço, durante as 9 semanas específicas do treino, mesmo tendo sido forçado a vários dias de descanso e a ritmos mais moderados, contabilizei nesse período 800 kms - com este volume de treino a probabilidade de debelar por completo a lesão e obter êxito na maratona era muito reduzida! Não aconselhava ninguém a correr uma maratona nestas condições, no entanto uma coisa é dar conselhos aos outros, outra coisa é quando somos nós!
Desta vez não soltei o queniano que tenho dentro de mim, soltei o soldado Pheidippides, que 2500 anos depois também merece ser recordado!
Agora, só espero que a minha teimosia não tenha agravado o quadro clínico da lesão.
Brevemente saberei, enquanto não souber vou permanecer quietinho!
Abraço, a todos!